terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Saladino derrotado, aceita condições e morre abatido e envergonhado

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Após a libertação de Jaffa, Ricardo Coração de Leão só dispunha de dois mil homens, dos quais só cinquenta eram cavaleiros, aliás desmontados. A debilidade numérica inspirou aos turcos a esperança de tirar revanche.

Assim que o exército de Saladino conseguiu se recuperar em Yazour, ele percebeu a imensa vergonha do pânico do 1º de agosto.

Ele ficou sabendo que a pequena tropa de Ricardo, com uma louca despreocupação, acampava fora dos muros de Jaffa. Passar no sabre esses pedestres parecia fácil.

Na noite do 4 ao 5 de agosto, a cavalaria muçulmana se pôs em marcha sob a luz da lua em direção ao acampamento inglês.

Estourou uma disputa entre os mamelucos que atrasou um pouco a marcha, de maneira que quando eles chegaram diante do acampamento cristão já era de manhãzinha.

Um genovês que se afastara pelos campos viu brilhar as armaduras e deu a alarme. Acordados às pressas, Ricardo e os seus apenas tiveram tempo de pagar nas armas, alguns até tiveram que combater semi-nus.

Formando linhas fechadas, com um joelho em terra para ficarem mais firmes puseram os escudos cravados na terra e as lanças inclinadas para frente.

Assim, eles receberam sem fissuras, nos primeiros albores da manhã, a carga furiosa dos esquadrões maometanos. Ricardo, a toda pressa, dissimulou entre os lanceiros, um número igual de besteiros.

Quando os cavaleiros turcos viam que sua carga era quebrada pelas lanças, eles davam meia volta para se reorganizarem. Então, os besteiros atiravam, matando os cavalos e semeando a desordem nos esquadrões.

Todas as cargas de Saladino arrebentaram-se diante desta tática precisa. Foi em vão que o sultão exortou seus soldados por trás das fileiras.

“A bravura dois francos era tal, escreve Béhá ed-Dín, que nossas tropas desencorajadas, contentavam-se em mantê-los cercados, mas ficavam à distância”.

Foi então que Ricardo Coração de Leão passou ao ataque contra esse exército desmoralizado.

“Ele lançou-se no meio dos turcos e os rachava até os dentes. Ele projetou-se tantas vezes, deu-lhes tantos golpes que acabou se fazendo mal e a pele de suas mãos descolou-se. 

“Ele golpeava para frente e para trás e com sua espada abria passagens por toda parte que ele ia. Seja que ele ferisse um homem ou um cavalo, ele abatia tudo. 

“Foi lá que ele deu um golpe que arrancou o braço e a cabeça de um emir vestido de ferro e que enviou direto para o inferno. 

“Quando os turcos viram esse golpe, abriram um espaço tão largo que, graças a Deus, ele voltou sem dano. 

“Mas, sua pessoa, seu cavalo e suas costas estavam tão cobertas de flechas que ele parecia um porco espinho”.

Ricardo Coração de Leão esmaga Saladino

A batalha durou todo o dia 5 de agosto. Na tarde, a vitória dos cruzados era completa. Diante do rei de Inglaterra e seu punhado de heróis o exército muçulmano bateu em retirada.

Saladino saiu humilhado e desencorajado.

Tão grande foi a admiração dos muçulmanos pela bravura do grande Plantagenet que em plena batalha Mélik el-Adil, vendo-o combater sobre um cavalo medíocre e já cansado, enviou-lhe um novo corcel.

Fendendo a multidão dos combatentes vira-se chegar ao galope e se deter diante de Ricardo um mameluco que conduzia dois magníficos cavalos árabes, “porque não era conveniente que o rei combatesse a pé”.

Entrementes, os acontecimentos na Europa pediam pelo rei da Inglaterra. Na sua ausência o rei da França Felipe Augusto e o próprio irmão do rei inglês, João sem Terra, começaram a dividir seu reino.

Instado a regressar, Ricardo concluiu uma paz de compromisso com Saladino em 3 de setembro de 1192. 

O acordo baseou-se no mapa das operações: os francos obtiveram o território recuperado pelos seus exércitos, quer dizer a zona costeira desde Tiro até Jaffa.

O interior, incluindo Jerusalém, ficava na posse de Saladino, mas o sultão concedia todas as garantias aos cristãos para peregrinarem em liberdade na cidade santa.

Túmulo de Saladino em Damasco

Saladino inaugurou o novo regime recebendo em Jerusalém com magnífica cortesia, os bispos, barões e cavaleiros, seus adversários da véspera, que foram cumprir seu voto ao Santo Sepulcro, antes de embarcar de volta para Europa.

Não foi sem melancolia que Ricardo embarcou para Europa, em 9 de outubro de 1192, sem ter podido liberar o Santo Sepulcro. Ele puniu-se a si próprio se abstendo de acompanhar os cavaleiros na visita aos Locais Santos.

Saladino teve que se contentar com um semi-sucesso após ter quase apalpado a vitória total. Frente ao rei-cruzado com coração de leão ele conheceu as sombrias jornadas de Arsur e Jaffa e teve que ceder aos cristãos a costa palestina.

Batalhas e angústias demais esgotaram o sultão. Na noite de 3 a 4 de março de 1193 ele morreu em Damasco, onde ainda está seu túmulo. 



(Fonte: René Grousset, « L’épopée des croisades », Perrin, 2002, collection tempus, 321 pp., capítulo XII).



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Um comentário:

  1. Oiii pessoal,Pois é..Entre tantos guerreiros notáveis que embarcaram pra Terra Santa como o Godofredo de Boullion,Ricardo foi um dos poucos que conseguiram vitórias estimáveis pros cristãos considerando claro que os cruzados eram também saqueadores que usavam de muita violência em nome de Deus,o que não é muito cristão!!!

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